As abóboras pertencem ao gênero Cucurbita (família Cucurbitaceae), que compreende várias espécies silvestres e domesticadas nativas das Américas. Cinco espécies de Cucurbita
foram domesticadas há milhares de anos e compreendem as hortaliças
conhecidas como abóboras, morangas, gilas, mogangos e abóboras
ornamentais: Cucurbita maxima, Cucurbita moschata, Cucurbita ficifolia, Cucurbita argyrosperma e Cucurbita pepo.
Quando os primeiros navegadores portugueses desembarcaram em terras
brasileiras, há cinco séculos, os indígenas cultivavam suas próprias
variedades de abóboras. Naquela época, elas eram o terceiro produto
agrícola em ordem de importância para os indígenas, sendo suplantadas
apenas pela mandioca e pelo milho. As abóboras cultivadas pelos índios
brasileiros foram levadas para a Europa pelos portugueses, enquanto que
os espanhóis, que colonizaram outros países das Américas, levaram para
lá as variedades de abóboras cultivadas pelos astecas, maias e incas. As
abóboras fizeram sucesso e circularam rapidamente entre os diferentes
países do Velho Mundo, chegando à Alemanha e à Itália ainda no século
XVI. Quando os imigrantes alemães e italianos vieram ao Brasil, no
século XIX, trouxeram consigo sementes de suas próprias seleções de
abóboras, para seguir cultivando no Brasil aquelas que já haviam sido
incorporadas à sua cultura havia três séculos.
Assim,
atualmente, existe no Brasil o seguinte cenário: alguns agricultores
ainda mantém suas variedades crioulas de abóboras, realizando seleção
recorrente para os tipos de frutos que mais lhe agradam, de acordo com
suas preferências pessoais, ditadas por sua cultura. Um pequeno número
desses agricultores tem papel de destaque nessa dinâmica de conservação in situ / on farm,
atuando como guardiões dessas sementes, que são passadas de geração a
geração e são objeto de trocas entre parentes e vizinhos. O maior número
de variedades crioulas em cultivo no país é das espécies Cucurbita maxima e Cucurbita moschata.
A primeira apresenta grande variabilidade genética para características
morfológicas externas do fruto, como tamanho, formato, cor e textura da
casca, o que resulta em uma diversidade de nomes atribuídos para cada
tipo, como abobrinha, abóbora, abóbora-crioula, abóbora-cogumelo,
abóbora-coração-de-boi, abóbora-gaúcha, moranga e moranga-de-bunda,
entre outros. Já os frutos de Cucurbita moschata, conhecidos
popularmente como abóbora-de-pescoço, moranga ou abóbora-menina,
representam uma importante reserva de alimento para animais domésticos
(principalmente suínos e bovinos), além de serem bastante utilizados no
preparo de doces – em calda e em pasta – e também de pratos salgados
(quibebe, sopas e cozidos).
A maior diversidade de Cucurbita em cultivo no país é mantida pelos agricultores da Região Sul, onde podem ser encontradas as cinco espécies domesticadas de Cucurbita,
como resultado do processo histórico de colonização. Nesse contexto,
agricultores descendentes de portugueses mantêm variedades crioulas de Cucurbita pepo,
cujos frutos de casca bastante dura e polpa fibrosa, denominados
mogangos, são apreciados no preparo de "mogango caramelado" e também em
pratos salgados. Em número bem menor, alguns descendentes de portugueses
no Sul do país também mantêm variedades crioulas de gila (Cucurbita ficifolia),
com frutos de casca extremamente dura e com polpa branca e muito
fibrosa, utilizados no preparo de um doce típico português, denominado
"doce de gila", cuja textura é semelhante ao doce de fios-de-ovos, mas
com coloração branca e sabor característico.
Fonte:http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/501-aboboras-e-cultura
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