quarta-feira, 9 de setembro de 2015

A diversidade de abóboras no Brasil e sua relação histórica com a cultura

Avariedades-crioulas-de-aboborass abóboras pertencem ao gênero Cucurbita (família Cucurbitaceae), que compreende várias espécies silvestres e domesticadas nativas das Américas. Cinco espécies de Cucurbita foram domesticadas há milhares de anos e compreendem as hortaliças conhecidas como abóboras, morangas, gilas, mogangos e abóboras ornamentais: Cucurbita maxima, Cucurbita moschata, Cucurbita ficifolia, Cucurbita argyrosperma e Cucurbita pepo.
Quando os primeiros navegadores portugueses desembarcaram em terras brasileiras, há cinco séculos, os indígenas cultivavam suas próprias variedades de abóboras. Naquela época, elas eram o terceiro produto agrícola em ordem de importância para os indígenas, sendo suplantadas apenas pela mandioca e pelo milho. As abóboras cultivadas pelos índios brasileiros foram levadas para a Europa pelos portugueses, enquanto que os espanhóis, que colonizaram outros países das Américas, levaram para lá as variedades de abóboras cultivadas pelos astecas, maias e incas. As abóboras fizeram sucesso e circularam rapidamente entre os diferentes países do Velho Mundo, chegando à Alemanha e à Itália ainda no século XVI. Quando os imigrantes alemães e italianos vieram ao Brasil, no século XIX, trouxeram consigo sementes de suas próprias seleções de abóboras, para seguir cultivando no Brasil aquelas que já haviam sido incorporadas à sua cultura havia três séculos.
gilaAssim, atualmente, existe no Brasil o seguinte cenário: alguns agricultores ainda mantém suas variedades crioulas de abóboras, realizando seleção recorrente para os tipos de frutos que mais lhe agradam, de acordo com suas preferências pessoais, ditadas por sua cultura. Um pequeno número desses agricultores tem papel de destaque nessa dinâmica de conservação in situ / on farm, atuando como guardiões dessas sementes, que são passadas de geração a geração e são objeto de trocas entre parentes e vizinhos. O maior número de variedades crioulas em cultivo no país é das espécies Cucurbita maxima e Cucurbita moschata. A primeira apresenta grande variabilidade genética para características morfológicas externas do fruto, como tamanho, formato, cor e textura da casca, o que resulta em uma diversidade de nomes atribuídos para cada tipo, como abobrinha, abóbora, abóbora-crioula, abóbora-cogumelo, abóbora-coração-de-boi, abóbora-gaúcha, moranga e moranga-de-bunda, entre outros. Já os frutos de Cucurbita moschata, conhecidos popularmente como abóbora-de-pescoço, moranga ou abóbora-menina, representam uma importante reserva de alimento para animais domésticos (principalmente suínos e bovinos), além de serem bastante utilizados no preparo de doces – em calda e em pasta – e também de pratos salgados (quibebe, sopas e cozidos).
A maior diversidade de Cucurbita em cultivo no país é mantida pelos agricultores da Região Sul, onde podem ser encontradas as cinco espécies domesticadas de Cucurbita, como resultado do processo histórico de colonização. Nesse contexto, agricultores descendentes de portugueses mantêm variedades crioulas de Cucurbita pepo, cujos frutos de casca bastante dura e polpa fibrosa, denominados mogangos, são apreciados no preparo de "mogango caramelado" e também em pratos salgados. Em número bem menor, alguns descendentes de portugueses no Sul do país também mantêm variedades crioulas de gila (Cucurbita ficifolia), com frutos de casca extremamente dura e com polpa branca e muito fibrosa, utilizados no preparo de um doce típico português, denominado "doce de gila", cuja textura é semelhante ao doce de fios-de-ovos, mas com coloração branca e sabor característico.
http://www.slowfoodbrasil.com/images/alimentacao-e-cultura/variedade-crioula-de-cucurbita-maxima-foto-camila-schinestsck.jpg

Fonte:http://www.slowfoodbrasil.com/textos/alimentacao-e-cultura/501-aboboras-e-cultura

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